Sobre estar só eu sei - Nicolas Santos
09/02/2020
Tenho estado só a vida inteira, lembro-me como papel picado, a infância do lado de dentro do portão, as mãos, as mães, as maçãs, as manhãs, vertigem inexata, passagem comprada, tenho estado só. Precipito o fim, corto o que posso, até cortar, até deixar, até sangrar, arrasto-me pelos cômodos, incomodo, visto a mesma roupa rasgada, arrasto-me pelos cantos, visto a mesma roupa usada. Troco as letras, memória fraca, troco as memórias, letras fracas, troco as frases por trocos e toco o rosto que já não toco, não sonho, jamais sonho.
Tenho estado só, sinta a minha dor.
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