Ano passado - Nicolas Santos

05/04/2015

Eu faço poesia de frente para o espelho. Eu faço poesia que não rima, poesia que se degusta. Quem gosta, faz algo, quem não, também.
Nativo deste solo infértil, caluniado por dizer verdades irrefutáveis, é o mesmo chão em que salivam e constroem-se, vidas, inférteis mentes. Desista porque essa será a imprecisão que precisas, precisas demasiadamente do trágico, do café amargo e frio, do livro mofado, de mim. Mais longe do que lua, mais perto que marte, mar-teu, mar seu, mar meu, contrate, desate e lembre quando e por ser, ser-te é ser-me. Somos vagais despreocupados que pensam sobre tudo. Somos seres preocupados que gostariam da imoralidade em muros de capa. Venho para ser incisivo, real, provocador, colocar o dedo na ferida e a espada na pedra, canto que o amor não existe e prego a auto-salvação. Deita-se quem pode, como pode, as luzes da cidade sussurram, escondam-se estrelas, quando posso, sou rua, quando posso, filósofo. Platão estragou o universo. O reducionismo escabroso reitera políticas de esgoto, a verba é verbalizada para poucos que candidatam-se, o mundo é mesmo tudo o que não é. Sejamos sinceros, tal qual aquele rapaz que poematizava sobre o piano, teorias e métodos são apenas teorias e métodos, sejamos sinceros. E eu busco nestas formas azedas o que levar, levo a ânsia da humanidade, pois é isto que nos forma, nos destaca, o azul caindo do céu. Não culpe quem não se culpa, hoje já é tarde, amanhã é cedo demais e tu me diz que sabes o que fazer, sabes mesmo, faça.
E isso acontece feito veraneio. Veraneiam ao alagar ruas, calçadas, pontes. Minha festa é acalmar-me.
Descarto a casualidade, mensuro que o necessário precisa de uma verdade reciclável, jogo em mãos, por muito menos, por saúde. Repousei, assim como pede-se, teus empréstimos ganham nova concorrência, nova data, lembremos que o encarregado também merece ser carregado. Não quero mais importar-me com este truque estúpido que vocês apelidaram de futuro. O sono é uma ofensa descabida que surge em mim a todo tempo, sou John, sem Yoko, sou fraco. É sol, só sol, seu sol, considere o considerável, respeito com palavras pré-formadas, estabeleço relações baseadas em uma ajuda não afetiva. Sabes o meu endereço, desconhece meu nome, estas telhas são material firme, sujas de sabe-se-lá-o-que, sujas de universo. Em inércia total, encontraste defeitos, mantenha-se com estes trapos e feridas, é indevido comprometer-se sem estadia, sua boca é desejável.
É libido, vontade potência e trezentos a esquerda. É sono que agoniza, é artista, é caravela, ciúme. É tu, teu, meu, nosso, sem força, sem.
Lucidez é pouco, salva-nos desta mesmice, separa o trágico da solidez, pedra bruta ataca, não há o que lapidar, nunca é vento sem planta. Comprarei aquela planta, aquela madeira e este sol, aquela lua, sanidade de concreto, o vento e a fome que tens de tudo que move-se, se mova. Deixe a demagogia na sua estante. Jogado num colchão, sentindo o vento e parafraseando Pessoa, estou indo onde querem-me, jamais somatizam como vós, jamais dão-nos pedra.

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